Eduardo Côrte-Real
Abstract
Na primeira reunião de avaliação em que participei como assistente de Daciano da Costa, ainda nos anos oitenta do século passado, fui surpreendido com um aspecto aparentemente decisivo na avaliação dos desenhos: a qualidade da “Perspicácia”. Nos desenhos dos melhores alunos, aqueles que eu julgava que tinham obtido melhores resultados e consequentemente conseguiam produzir imagens com verosimilhança, existiam alguns que eram mais perspicazes que outros.
“Este, é muito mais perspicaz — dizia-nos Daciano, — não te parece?”
Confesso que não a sabia distinguir, nem me ocorria como tal qualidade poderia ser evidente. Como em muitas outras coisas, o aprendiz deve fingir que percebeu e esperar por melhor oportunidade para ir percebendo.
Alguns anos depois li um livro de Peter Dormer, The Art of the Maker, onde era apresentado o papel da transmissão de conhecimento tácito no ensino e aprendizagem das artes ditas práticas. Posso, à distância de vinte anos, reconhecer que reconhecer perspicácia era uma tarefa pedagógica que foi sendo transmitida tacitamente no decurso de muitas sessões de avaliação.
Este texto procura estabelecer a importância do desenho de observação no edifício teórico — didáctico de Daciano da Costa, reflectindo especificamente no conceito de Perspicácia e quanto este é útil aos candidatos a designers e a arquitectos.
ISSUE 3 | April 2010 | 03/07 | Past Radical Propositions